Má gestão de leitos do SUS causa filas nos hospitais

Saúde

A fila de pacientes em busca de leitos no Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná não se deve à falta de leitos. Um levantamento aponta que dos 22 mil leitos existentes no estado, cerca de 3 mil estão geralmente vagos. “Você vai no hospital e detecta que tem leito sobrando, mas liga para a Central de Leitos e há uma lista de espera. O que existe é uma má administração desses leitos”, diz o presidente da CPI dos Leitos, deputado estadual Leonaldo Paranhos (PSC).

A CPI foi aberta em 27 de abril e vem apresentando relatórios sobre os problemas detectados. até o momento, foram visitados 19 instituições de saúde em 11 cidades paranaenses. Paranhos encontrou leitos com tubos de oxigênio instalados que são usados como salas de reuniões e ouviu relatos de funcionários que se negam a ofertar vagas disponíveis. Há ainda hospitais conveniados com pacientes que poderiam ter recebido alta, mas que continuam internados para não abrir a vaga ao SUS. “O paciente do SUS só sai quando chega um paciente particular. É como se ele guardasse a vaga para o outro. Isso não pode mais acontecer”, afirma.

A CPI esteve nos hospitais universitários também e, em um deles, encontrou 133 leitos fechados por falta de funcionários especializados. Pelas contas da CPI, nos hospitais privados existem dois funcionários contratados por leito. Nos públicos, são seis funcionários por leito. “Queremos entender por que a diferença é tão grande”, afirma Paranhos. Segundo ele, as centrais de leito – que distribuem os pacientes conforme a disponibilidade nos hospitais – não conseguem saber exatamente a quantidade e a disponibilidade dos leitos. “Pior: não sabemos quem são as pessoas que aguardam o leito. Não dá para entender porque um paciente que espera há 20 dias não consegue leito e um outro, que aguarda apenas uma semana, consegue esse mesmo leito.”

Há ainda casos de pacientes “fantasmas” que já receberam alta, mas seus prontuários permanecem, como se a pessoa estivesse internada. Em Ponta Grossa, a CPI encontrou um hospital com 193 leitos e apenas três pacientes internados. Em Francisco Beltrão, um hospital tinha 170 leitos e apenas 32 pacientes. “A questão é que, ao invés de resolver o problema, parece que até agora a única preocupação foi construir mais hospitais”, observa Paranhos.

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná diz ter conhecimento dos problemas apontados pela CPI e que eles foram detectados no início do ano, quando mudou a gestão. “Este é o sistema que nos foi deixado. Por isso, fizemos um projeto para mudar a administração da Central de Leitos”, explica a superintendente de Gestão de Sis­temas de Saúde da Sesa, Marcia Huçulak. Hoje a busca por leitos no estado é feita via telefone e nem sempre a pessoa que atende está com a informação atualizada. A ideia é que assim que o leito fique disponível ele apareça no sistema on-line. “Até o fim do ano, o novo sistema será implementado”, promete Huçulak.

A superintendente explica que outro problema é a falta de qualificação dos leitos. “Só a estrutura física não é suficiente. Não basta construir, é preciso equipar. E há leitos sem respirador, sem profissionais especializados para atendimento. Esta será nossa prioridade”, revela. Sobre a diferença en­­tre o número de funcionários por leitos da rede pública para a particular, ela diz que esta conta não pode ser feita, pois a quantidade de funcionários depende das complexidades atendidas em cada hospital. “Um hospital que faz partos é diferente do que atende trauma”, exemplifica.

Distribuição

Um problema comum no Brasil é a distribuição de leitos pelos estados. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Antônio Carlos Nardi, o que falta, principalmente, são médicos intensivistas, clínicos especialistas que aceitem viver em regiões onde os leitos foram construídos, mas estão ociosos. Por isso, a intenção não é ter leitos de alta complexidade em todos os municípios, mas em grandes regiões do país, onde uma cidade atenda cerca de 15 municípios. “Caso contrário, vai sempre faltar profissionais. Mas isso será um trabalho de longo prazo”, conclui.

País fechou 20,6 mil vagas na rede pública

Nos últimos seis anos, o Brasil teve 20,6 mil leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) fechados. Em contrapartida, teve um acréscimo de 15,5 mil leitos particulares. A região Norte foi a única que manteve um aumento de leitos públicos, de 2005 a 2011, que chegou a 11,4%. Em todas as outras regiões houve redução.

Os dados, segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, Antônio Carlos Nardi, mostram que o país está melhorando a administração das vagas. “Os leitos que fecharam nestes últimos anos não conseguiam sobreviver porque estavam em hospitais de pequeno porte. Havia um gasto de dinheiro público, até então, desnecessário.” Nardi explica que estes leitos não eram especializados e muitos acabavam fornecendo apenas soro ao paciente até a transferência para um leito mais equipado. “A questão é que o governo pagava por este paciente em duplicidade. No leito que forneceu soro e no leito que resolveu o problema. Era dinheiro jogado fora”, reitera.

Os hospitais de pequeno porte, que tinham cerca de 40 leitos, fo­­ram construídos antigamente pa­­ra suprir as carências das cidades do in­­terior, mas como não ti­­nham equipamentos adequados e nem mão de obra qualificada, acabaram onerando os cofres públicos. Segundo Nardi, o governo ti­­nha um contrato de prestação de ser­­viço com os pequenos hospitais. Pagava-se mensalmente e não por paciente. A maioria dessas instituições foram descredenciadas e viraram postos de saúde. Os leitos que ficaram são intermediários e por isso, segundo Nardi, deixaram de pesar no orçamento público.