O Ministério Público do Paraná (MP-PR) tenta descobrir quem é o autor de um blog anônimo que tem feito postagens contra o trabalho desenvolvido por promotores e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).As primeiras postagens da página são de 23 de março, três dias após o MP-PR deflagrar em Londrina, no norte do estado, a primeira fase da Operação Publicano, que investiga um esquema de corrupção na Receita Estadual.
O blog traz fotos do delegado do Gaeco em Londrina, Alan Flore, e dos promotores Renato de Lima Castro, Leila Schimit e Jorge Barreto, além de Claudio Esteves, que na época era promotor, mas agora é procurador do Estado.
A página faz postagens dizendo que o grupo abusa do poder, coage testemunhas e prende inocentes, além de criticar a delação premiada. O blog apresenta ainda uma lista de artigos com supostos erros cometidos pelo MP.
Entre as postagens também estão informações dos promotores, como salários, fotos das casas e detalhes da vida pessoal deles.
“Eu fico bastante feliz que pessoas, que não tem qualquer escrúpulo e moral, ataquem o Ministério Público, porque significa que estamos fazendo um trabalho eficiente. Um trabalho importante para mudar um estado de corrupção, que é tão avassalador no Brasil”, diz Castro.
Especialistas em crimes virtuais dizem que o blog está hospedado fora do Brasil, em uma plataforma livre. Assim, qualquer pessoa pode se cadastrar, inclusive com e-mails falsos. Por isso, identificar o autor é difícil, porque normalmente a pessoa usa um dispositivo para impedir o rastreamento.
O MP pediu uma investigação para tentar identificar e punir os responsáveis pelo blog. “Nós temos um setor apto para isso. A Associação Paranaense do Ministério Público tem a defesa das prerrogativas institucionais. Os promotores de Justiça de Londrina pediram para a associação acionar o escritório de advocacia para investigar essas pessoas, individualizá-las e promover ações penais e civis cabíveis”, afirma Castro.
O blog fala ainda do juiz Juliano Nanúncio, que decretou as prisões pedidas pelo MP-PR nas operações. Em uma das postagens, a página diz que o juiz é “incompetente” e que ordena as prisões de forma genérica, sem se basear em fatos concretos.
O juiz não quis comentar as críticas colocadas no blog.
Operação Publicano
A Operação Publicano foi deflagrada em 20 de março, e investiga um suposto esquema de corrupção envolvendo auditores fiscais da Receita Estadual.
De acordo com o Gaeco, os auditores que deveriam fiscalizar as empresas faziam vista grossa para irregularidades e não autuavam sonegadores. O esquema milionário cobrava propina para anular débitos e reduzir, por meio de fraudes, o valor de impostos.
Em abril, a Justiça aceitou as denúncias feitas pelo MP-PR contra 62 pessoas acusadas no caso, sendo 15 auditores fiscais da Receita Estadual, 15 empresários, 14 pessoas consideradas pelo MP como “laranjas” no esquema, 11 contadores, três auxiliares administrativos, dois funcionários públicos, um policial civil e um administrador de empresas.
O MP-PR denunciou o grupo por corrupção passiva, formação de organização criminosa, falso testemunho, falsidade ideológica e outros fatos criminosos.
A segunda fase da Operação Publicano foi deflagrada no dia 10 de junho, em dez cidades do estado. O Gaeco indiciou, no dia 19 de junho, indiciou 112 pessoas suspeitas de participar do esquema de corrupção.
Entre os indiciados estão 53 auditores, 44 empresários, 12 contadores, dois advogados e uma pessoa que se passava por auditor fiscal para praticar o crime, de acordo com o Gaeco.