Pais recorrem à aulas particulares para evitar reprovação dos filhos

Politica

Taxa de reprovação no Ensino Fundamental é de 9,4% no Paraná. Psicóloga fala sobre a importância do acompanhamento dos pais....

Julho marca o fim das férias e o reinício das atividades escolares, mas para muitas crianças e adolescentes representa também o início de uma maratona para recuperar notas e evitar a temida reprovação. Os últimos dados da Secretaria Estadual de Educação do Paraná mostram que, em 2012, a taxa total de reprovação no Ensino Fundamental foi de 9,4%. Da primeira à quinta série, a taxa foi de 5,7%, já do sexto ao nono ano, a taxa passa para 13,4%. No Ensino Médio, a taxa total de reprovação é de 12,8%. O índice considera escolas estaduais, municipais, federais e particulares.

Para deixar o filho de fora desta estatística, o empresário Sérgio Luiz Martins contratou uma professora particular para Daniel, de 14 anos, que estuda em uma escola particular de Curitiba. O acompanhamento é de segunda a quinta-feira, duas horas por dia.

Ano após ano, o garoto apresenta dificuldade nos estudos. Da parte do pai, não faltaram estratégias para ajudá-lo a levar os estudos com mais seriedade. “Ele não conseguia se concentrar direito. Eu tinha que tirar o celular, desligar televisão, mas ele não se concentrava. Houve uma época que eu falava para ele fazer resumo. Eu o obrigava a ler e a escrever, mas teve eficácia até um ponto. Quando eu ia estudar com ele, a gente acabava brigando porque eu mostrava de uma forma e ele tinha aprendido de outro e não aceitava o meu jeito”, lembrou Sérgio.

Eu falei que ele não queria estudar, então, eu não iria ficar pagando colégio particular para ele (...) Ele começou a chorar, e eu falei que não tinha conversa e que ele iria trabalhar comigo"

Sérgio Martins, pai

A manobra que surtiu efeito foi trocar um dia de escola por um dia de trabalho. Sérgio conta que depois que Daniel mostrou uma prova com nota baixa, teve uma conversa séria com filho. Pediu para que ele juntasse o uniforme e o material escolar e avisou que tudo seria doado. O garoto, a partir daquela data, iria trabalhar na empresa do pai.

“Eu falei que ele não queria estudar, então, eu não iria ficar pagando colégio particular para ele. Ele começou a chorar, e eu falei que não tinha conversa e que ele iria trabalhar comigo”, lembrou o pai. Na indústria, o dia de trabalho foi intenso. Ser filho do dono não amenizou a situação. O garoto fez diversas tarefas e seguiu a rotina da indústria, inclusive, almoçou no refeitório e seguir as demais regras da empresa.

Depois deste dia, Sérgio conta que o filho começou a levar os estudos mais a sério. Até o fim do ano ele irá continuar com a professora particular, porém, a intenção é de que o filho fique mais independente e passe a estudar sozinho. “Ele fazia academia, futebol e teve que parar para poder ir às aulas. Então, para ele, não foi legal também”.

Para a psicóloga Letícia Passos de Melo Sarzedas, que trabalha com acompanhamento multidisciplinar em Curitiba, acompanhar o filho na atividade escolar, assim como faz Sérgio, é essencial. Segundo ela, esta é a melhor maneira de evitar que a criança se veja com “a corda no pescoço” no segundo semestre. A psicóloga menciona ainda que, normalmente, os pais descobrem que os filhos estão com problemas nas nota muito tarde, justamente por não acompanharem o dia a dia, o calendário de provas, a execução de tarefas e o comportamento em sala de aula.

“Isso de acompanhar os estudos da criança ou do adolescente era algo que antigamente era de responsabilidade da mãe, mas, hoje, as coisas mudaram. Hoje, muitos ficam sozinhos em casa, e você exigir que eles cumpram uma rotina de estudos sem ninguém para supervisionar é complicado. Tem internet, televisão, videogame... Eles não têm este autocontrole”, diz a psicóloga.

Os pais precisam ter uma forte parceria com a escola. Muitas vezes acontece de os pais não terem conhecimento para acompanhar uma tarefa. Isso não é uma questão de nível social. "

Letícia Sarzedas, psicóloga

A Sarzedas afirma que existem outros fatores que também podem refletir no desempenho da criança. Entre elas a metodologia adotada pela instituição de ensino e a maturidade intelectual e emocional do aluno. “A criança que começa apresentando dificuldade no segundo semestre já estava com problemas antes. No primeiro ano, ela passa de ano. No segundo, fica para Conselho de Classe, e, no terceiro, reprova”.

Agora, pagar um acompanhamento multidisciplinar para o filho não é para todos os bolsos. Por isso, o papel dos pais ganha ainda mais relevância. Estar presente na escola e entender a metodologia e a dinâmica da instituição também pode fazer a diferença. “Os pais precisam ter uma forte parceria com a escola. Muitas vezes acontece de os pais não terem conhecimento para acompanhar uma tarefa. Isso não é uma questão de nível social. Tem coisas que as crianças aprendem hoje que não foram ensinadas quando eles estavam na fase escolar”, citou. Aqui, os pais tem que ver se a criança fez com qualidade a tarefa.

É importante ainda não brigar com a criança ou adolescente que apresenta dificuldade. “Os pais têm uma expectativa sobre os filhos e, normalmente, essa expectativa passa pelo sucesso escolar, boas notas, bom desempenho. Se isso não acontece, eles ficam com muita raiva porque ela [a criança] não correspondeu à expectativa deles. Então, eles não estão enxergando a criança nesta relação. Está enxergando ele, a frustação dele”.

O que se demonstra eficaz, de acordo com a psicóloga, e acertar previamente com a criança uma rotina, estabelecendo quantas horas - e em que momento - ele pode ficar no computados, no videogame ou qualquer outra atividade que ele goste. Este cronograma precisa ser pensado de uma forma que os pais consigam acompanhar. “Não adianta colocar o momento de estudo em uma hora em que não tem um adulto por perto. Eles não vão cumprir, e não adianta brigar com a criança por causa disso. Ela não faz por mal, ela faz porque não tem maturidade”, explicou a psicóloga Sarzedas.

Quando a criança ou o adolescente começam a apresentar problemas frequentemente no estudo, o ideal é procurar um especialista para verificar se não há nenhum transtorno de aprendizado. Se nada for diagnosticado, existem algumas dicas que podem auxiliar a família a contornar a situação.

Veja algumas dicas para organizar a rotina de estudos:

1. Conheça seu filho e observe o período em que ele rende mais

2. Pré-adolescentes e adolescente sentem sono após o almoço. Se seu filho estuda pela manhã, estabeleça o final da tarde para a execução de tarefas.

3. Identifique, juntamente com seu filho, em quais matérias e conteúdos ele tem maior dificuldade. Estas merecerão uma maior atenção.

4. Procure estar junto, ou ter um adulto responsável para supervisionar o período de estudo.

5. Mais importante que o tempo que se gasta para estudar, é a qualidade desse estudo.

6. Faça por escrito, junto ao seu filho, um cronograma semanal de estudos: horários e  quais disciplinas a serem estudadas.

7. Utilize as mídias para incrementar e atrair o interesse do seu filho. Internet, jornais e revistas podem, e devem, ser utilizados. Identifique sites, jogos e ferramentas virtuais que trabalhem os temas de forma lúdica e criativa.

8. Faça um contrato com seu filho: ele precisa saber que você estará supervisionando, que irá olhar sua produção e acompanhará suas notas e tarefas entregues.

9. Peça socorro! Se seu filho vai mal em uma determinadas matéria e você não consegue acompanhar o conteudo, veja se alguém da família pode auxiliar

10. Supervisione, mas nunca faça pelo seu filho. Lembre-o sempre de que agora é o momento dele aprender, e não seu.

11. Nunca suprima os momentos de lazer, de atividades de interesse da criança e do adolescente. Saúde é um equilíbrio.

12. Se seu filho está "enforcado", não é hora de brigas e discussões. Você é o adulto da relação. Ensine seu filho a gerenciar situações de crise, mostre que você está do lado dele.

13. Nunca utilize palavras que depreciem a inteligência ou o valor do seu filho. Baixa autoestima não vai ajudar!

14. Reconheça o esforço! Elogie, vibre juntamente! Um aluno que tirava 20 e passa a tirar 50, ainda não recuperou a nota, mas merece ser reconhecido pela melhora significativa.