Estudante que viralizou ao defender ocupações é assediada no Senado

Politica

A estudante paranaense Ana Júlia Ribeiro –  que se tornou o rosto do movimento secundarista responsável pela ocupação de centenas de escolas pelo país – foi "tietada" na manhã desta segunda-feira (31) em uma audiência pública realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado.

 

Comparada na web à ativista paquistanesa Malala Yousafzai, ela tirou selfies, fez fotos com parlamentares da oposição e foi intensamente aplaudida ao voltar a discursar a favor da ocupação de escolas por estudantes que são contra a reforma do ensino médio proposta pelo governo Michel Temer.

Ana Júlia, 16 anos, foi reconhecida no Senado pelo discurso que fez na semana passada na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná, quando defendeu a ocupação do Colégio Estadual Senador Alencar Guimarães, de Curitiba. 

Na ocasião, ela disse que as mãos dos deputados estaduais do Paraná estavam “sujas” com o sangue do adolescente Lucas Mota, morto dentro de uma escola ocupada pelo movimento estudantil. O vídeo do discurso da estudante viralizou nas redes sociais e ganhou as páginas dos jornais.

A reunião em que Ana Júlia participou na Comissão de Direitos Humanos do Senado foi convocada para debater eventuais impactos, na área de educação, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um teto para os gastos públicos federais nas próximas duas décadas. A audiência contou com a presença de senadores do PT, representantes de associações da área da educação e estudantes.

A estudante Ana Júlia Ribeiro participa de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado (Foto: Gustavo Garcia / G1)
A estudante Ana Júlia Ribeiro participa de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado (Foto: Gustavo Garcia)

 

Nesta segunda, a jovem voltou a utilizar a figura de linguagem das “mãos sujas” ao se referir aos parlamentares que defendem a PEC do teto de gastos. Na visão de Ana Júlia, votar a favor do texto é se posicionar contra a educação por 20 anos.

“Nós vamos desenvolver métodos de desobediência civil, nós vamos levar a luta estudantil para frente, nós vamos mostrar que não estamos aqui de brincadeira, e que o Brasil vai ser um país de todos", discursou Ana Júlia no Senado.

"Em relação à PEC 55, a antiga PEC 241, eu quero dizer uma coisa: aqueles que votarem contra a educação estarão com as mão sujas por 20 anos”, complementou a estudante, sob aplausos dos parlamentares e convidados da Comissão de Direitos Humanos.

A jovem explicou na reunião que métodos de “desobediência civil” são técnicas de “resistência pacífica”. “Resistir não é só ficar na escola. É não abaixar as cabeças para as ideias contrárias, é continuar lutando pelo movimento estudantil [...] Nós vamos ocupar as ruas também”, enfatizou.

Em seu discurso na comissão do Senado, Ana Júlia afirmou que o movimento estudantil que ocupou escolas brasileiras está sofrendo “repressão violenta” por parte de pessoas contrárias aos protestos.

“Infelizmente, nós temos sofrido repressão de movimentos contrários. E a repressão está sendo violenta. Repressão que, na calada da noite, passa nas escolas. Repressão que passa com som alto, tocando o Hino Nacional, como se nós não respeitássemos o Hino”, destacou a estudante.

“Nós defendemos o direito que eles [os opositores das ocupações] têm de serem contrários. Nós vivemos em uma democracia e sabemos que é importante ter os dois lados. Mas nós abominamos a repressão violenta”, acrescentou.

Ana Júlia posou para fotografias ao lado de parlamentares no Senado (Foto: Gustavo Garcia / G1)
Ana Júlia posou para fotografias ao lado de parlamentares no Senado (Foto: Gustavo Garcia )

Enem
A estudante paranaense comentou em uma entrevista concedida ao final da audiência pública o fato de algumas escolas ocupadas em protesto à reforma do ensino médio serem locais de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O ministro da Educação, Mendonça Filho, chegou a dizer que as ocupações nas escolas podem comprometer a realização da prova deste ano para 95 mil alunos.

Ana Júlia afirmou que os estudantes estão realizando “assembleias democráticas” para decidir o que vão fazer para viabilizar a realização das provas. 

“Queremos escolas para todos, com infraestrutura, uma escola que passe para a gente o ensino da cidadania”, ressaltou a estudante paranaense.