O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, aceitaria, "lisonjeado", asilo político no Brasil para ele e para sua organização se as autoridades do país o oferecessem, segundo uma entrevista realizada por internautas e divulgada nesta quarta-feira pela revista "Carta Capital". "Eu ficaria, é claro, lisonjeado se o Brasil oferecesse ao meu pessoal e a mim asilo político. Nós temos grande apoio do público brasileiro", disse Assange em entrevista que foi coordenada e divulgada pelo blog que a revista dedica ao WikiLeaks.
Assange, que se encontra em prisão domiciliar no Reino Unido acusado de um delito de agressão sexual, ressaltou, no entanto, que sua situação atual o impede de se mudar "para o belo e quente Brasil".
Na entrevista, uma seleção de 12 perguntas das 350 que os internautas remeteram a Assange, o australiano afirmou que o WikiLeaks seguirá firme suas atividades, não se importando com intimidações que vem recebendo. "Estamos determinados a continuar a despeito das muitas ameaças que sofremos. Acreditamos profundamente na nossa missão e não nos intimidamos nem vamos nos intimidar pelas forças que estão contra nós", assegurou.
Perguntado sobre os critérios usados por sua organização para selecionar os meios de comunicação com os quais colabora, Assange disse que escolhe "grupos de jornalistas ou de pesquisadores de direitos humanos com audiência significativa" porque não pode avaliar o trabalho individual de milhares de pessoas.
Para o fundador do WikiLeaks, "uma das funções primordiais da imprensa é obrigar os governos a prestar contas sobre o que fazem. No caso do Brasil, que tem um governo de esquerda, nós sentimos que era preciso um jornal de centro-direita para um melhor escrutínio dos governantes".
Apesar da postura contestadora, Assange fez questão de esclarecer que nem ele nem a organização são exclusivamente de esquerda: "Somos uma organização exclusivamente pela verdade e justiça - e isso se encontra em muitos lugares e tendências".
Sobre a credibilidade do site, que filtrou milhares de supostas comunicações confidenciais do governo dos Estados Unidos, o fundador disse que lhe agrada uma história de quatro anos publicando documentos sem ser acusados de falsidade.
"Nesse período, até onde sabemos, nunca atestamos ser verdadeiro um documento falso. Além disso, nenhuma organização jamais nos acusou disso. Temos um histórico ilibado na distinção entre documentos verdadeiros e falsos, mas nós somos, é claro, apenas humanos e podemos um dia cometer um erro", acrescentou.
Assange disse também que o WikiLeaks aceita filtragens de relevância diplomática, ética e histórica, que sejam documentos oficiais classificados ou documentos suprimidos por alguma ordem judicial.
"Os Estados e as megacorporações mantêm seu poder sobre o pensamento individual ao negar informação aos indivíduos", declarou, para depois acrescentar que o "o livre fluxo de conhecimento de grupos poderosos para grupos ou indivíduos menos poderosos é também um fluxo de poder, e portanto uma força equalizadora e democratizante na sociedade".
Por fim, Assange negou que esteja envolvido em alguma produção cinematográfica sobre sua organização, mas revelou: "Se vendermos os direitos de produção, vou exigir que meu papel seja feito pelo Will Smith. O nosso porta-voz, Kristinn Hrafnsson, seria interpretado por Samuel L. Jackson, e a minha bela assistente por Halle Berry. E o filme poderia se chamar 'WikiLeaks Filme Noire'".
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