Região centro-sul é uma das que mais desmata araucárias no PR, diz Ibama

Guarapuava

A Operação Mata Viva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que tem ações de fiscalização durante todo o ano de 2016, já embargou mais de 400 hectares de área de florestas de araucária desmatadas em todo o estado.

 

Uma das regiões que mais desmata é o centro-sul do Paraná. Em Guarapuava, na região central do estado, o desmatamento ocorre na área de preservação ambiental da Serra da Esperança.

Onde há fumaça, pode haver grandes sinais de destruição da natureza. Abriram-se clareiras gigantes no meio da mata com o uso de tratores, de motosserras, de fogo. Agentes do Ibama descobrem os caminhos do desmatamento cruzando imagens de satélite do ano passado pra cá.

Onde havia verde, agora, é área de fiscalização. Árvores centenárias, muitas na lista da flora em extinção, são encontradas no chão. Só nesta semana, agentes do Ibama encontraram, pela operação, 60 hectares de área de floresta de araucária desmatada em Guarapuava.

Consequências
Um dos troncos caídos, de xaxim, tinha pelo menos 30 anos. Ele foi derrubado exatamente em cima de um curso d'água, que desapareceu.

O Ibama descobriu que essa área foi desmatada há alguns meses. Em outubro, os agentes fiscalizaram nessa área e viram que ainda tinha curso d'água, mesmo com o desmatamento das árvores.

Agora, um mês depois da fiscalização, o rio secou completamente. O agente Vinícius Otávio Benoit Costa conta porque isso aconteceu.

"Estamos situados às margens do curso hídrico. Aqui, é Área de Preservação Permanente. Essa vegetação tem a função de primordial de proteger a quantidade e a qualidade desse rio. Auxilia também na infiltração das águas da chuva e faz o controle da vasão, controlando todo um sistema hídrico. Isso vai prejudicar o abastecimento de água lá na frente", explica.

Ainda de acordo com ele, a natureza foi totalmente desrespeitada. "É um descumprimento à legislação federal", acrescenta Vinícius.

Comércio clandestino
São toras de cedro, canela, árvores de florestas em estágio avançado. Imbuias que, pela espessura do tronco, tinham pelo menos 200 anos de idade. E a araucária, árvore símbolo do Paraná, vira bloco de madeira pra venda à serrarias clandestinas

"Uma vez que a araucária é desdobrada, eles fazem toras, ripas, caibros... e essa madeira, que é clandestina, não tem documentação nenhuma. Acaba indo parar no mercado clandestino também, vendida por um preço bastante inferior em relação ao preço da madeira legal", explica o agente Michel Kawashita.

No local, os agentes encontraram um barraco. Os agentes contram que ele é muito comum nas área de desmatamento da Amazônia. É um acampamento pra guardar combustíveis, motosserras, suprimentos, feito por desmatadores profissionais, responsáveis pela redução significativa das florestas em estágio avançado de araucária.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, pelo menos 40% de todo o território era composto por esse tipo de floresta. Hoje, essa área foi reduzida pra 0,8%.

"Isso representa uma grande perda da biodiversidade local, não só pra mamíferos, mas também pras aves migratórias, insetos, todo tipo de fauna", explica Michel.

Prejuízo ambiental irreversível
"O que a natureza demorou pelo menos 150 anos pra construir lentamente o ser humano levou alguns meses para destruir. Para recuperar toda essa floresta no estágio adulto que ela se encontrava, vai ser necessário pelo menos mais 100 anos. Isso se não for explorada novamente", acreditaMichel.

O prejuízo ambiental é irreversível. Já para os responsáveis, o prejuízo é financeiro: além do embargo aplicado pelo Ibama sobre as terras, a justiça pode determinar multas que variam de R$ 500 a R$ 10 mil por hectare e a apreensão das ferramentas usadas para a infração, como tratores.

"A maioria que a gente tem constatado são pessoas com envolvimento com grilagem de terra, exploração de terra. São profissionais do desmatamento que, às vezes, se fingem de produtores rurais pra executar essa atividade ilegal", afirma Vinícius.