Fim do azar! Título da Libertadores acaba com a fama do técnico Cuca

Nacional


Treinador confessa irritação com adjetivo, lembra casos durante a competição e fala da vida como técnico, jogador, pai de família e filho...

Cuca nasceu Alexi Stival, mas, desde a infância e dos tempos de jogador, carrega o apelido, que, durante boa parte da carreira de treinador, virou sinônimo de azar. A fama ele conseguiu espantar somente agora, com um sofrido, e por que não dizer, sortudo, título da Taça Libertadores, conquistado com o Atlético-MG. Dos tempos de infância no Paraná, o técnico relembra de onde surgiu o apelido carregado até hoje e que, ultimamente, está mais ligado à competência.

- Segundo minha mãe fala, no bairro lá em Curitiba, tinha um delegado que era muito ruim, e o nome dele era Cuca. Aí, quando eu fazia minhas sacanagens, ela dizia que ia chamar o Cuca. Cresci e aí pegou.

Em entrevista concedida ao Esporte Espetacular, o treinador falou sobre vários assuntos, além da inédita conquista dele e do Atlético-MG. Cuca falou sobre trabalho, família, religião, sorte e azar, e também sobre os tempos de jogador. Inclusive, revelou a vez em que pisou na bola com Falcão, então técnico da Seleção Brasileira.

- Falcão foi fera, eu que fui mau com ele. Ele me convocou, fui titular contra o Paraguai, em 1991, e, depois, em um domingo, tinha uma avaliação física em São Paulo. Era um domingo ensolarado em Porto Alegre, e eu estava na piscina da casa que tinha alugada lá. Pensei, “Não vou fazer avaliação coisa nenhuma” e fiquei lá. Automaticamente, fui cortado e achei ruim com o Falcão. Mas hoje a gente vê coisas que tenta passar para essa gurizada. É bom passar, porque tive esse lado ruim.

Cuca em entrevista ao EE.  (Foto: Léo Simonini)

Como treinador, Cuca ganhou projeção entre os técnicos, depois de um bom trabalho feito no Goiás, em 2003. Depois disso, passou a ser visto sempre em grandes times de Rio, São Paulo e, ultimamente, Minas Gerais, aonde chegou em 2010 e segue até hoje. Mas foi no Atlético-MG que conseguiu o maior feito da carreira, ao conquistar a Libertadores.

Antes disso, tinha que conviver com a fama de azarado, já que montava bons times, mas, na hora H, não conseguiam conquistas importantes. De bem com a vida, agora que é campeão internacional, o técnico confessou a irritação que a má fama lhe trazia.

- É verdade que, às vezes, dei um azar aqui ou ali, mas é do jogo. Fui vice-campeão brasileiro duas vezes, mas é um campeonato que não tem decisão. São conquistas, e não é um vice-campeonato. Perdi algumas vezes nos pênaltis com o Botafogo, são detalhes, e não é sorte ou azar. Nesta Libertadores, quebrei tudo.

Ainda sobre a competição internacional, na fase em que a pecha de azarado o incomodava, Cuca relembrou uma passagem em Assunção, quando se irritou com o repórter paraguaio e também com a Fifa.

- Estava no Paraguai, para jogar a final, e uma emissora me chamou, antes do primeiro jogo, e perguntou: “Cuca, o site da Fifa fala em você como um treinador azarado”. Veio um turbilhão de coisas, queria pegar o site da Fifa e torcer o pescoço, relembrou entre risadas.

Agora sortudo, Cuca garantiu que o título chegou em um lugar especial, já que ele e o Atlético-MG tinham históricos de má sorte parecidos. O técnico ainda cita a campanha do “Eu acredito” para que tudo mudasse na história de ambos.

Cuca comemoração Atlético-MG festa (Foto: AFP)

- Lutei durante toda a minha carreira por um título internacional e do jeito que foi ainda, no Atlético-MG, que tem tudo a ver comigo, foi uma conquista muito sofrida. Acho que o torcedor foi feliz com essa campanha do “acreditar”, porque o próprio torcedor não acreditava em coisas assim, que até o fim iria virar e ganhar. Eles entendiam a derrota até antes dela vir. Mas começaram essa campanha do acredito que passou para o jogador. Passou uma confiança de ir até o fim, que ia dar, e isso foi o diferencial.

Com o título conquistado, em ocasiões em que a sorte e o destino estiveram ao lado dele e do Atlético-MG, Cuca ressaltou também o trabalho.

- A sorte é o cara escorregar na hora que driblou o Victor, ou é azar do cara? Ele já tinha o gol aberto, enquadrou o corpo para fazer e deu uma escorregadinha. Teve o apagão divino aquela noite contra o Newell’s. Mas a sorte não depende de mim no banco, se a bola entra ou não. Depende de mim no dia anterior. Treinamos no Mineirão, naquele gol, os pênaltis. Fiquei lá em uma placa, observei e treinei exaustivamente. No dia do jogo, eles fizeram uma maravilha, isso é trabalho.

Superstição

- Tenho superstições, todo mundo tem. Quando tem uma situação que te agradou e você repete, isso é superstição, mas tem gente que usa a mesma cueca o ano inteiro. É uma maneira do cara se sentir fortalecido. Tenho algumas, duas ou três, bem menos das tantas que falam.

Religião

- Sou bastante religioso, mas não sou frequentador assíduo, fanático. Tenho fé e me fortaleço corporal, mental e espiritualmente. E em uma decisão por pênaltis, quanto mais fé você tiver, estará mais fortalecido. Não só quem vai bater, o clima geral, até do torcedor. Tenho muita fé nisso.

Família

- Tenho como lema ser aqui o que sou em casa, não ser dois ou três, sou a mesma coisa, com momentos bons e ruins. Mas acho que sou uma pessoa agradável, já são 28 anos de casado, e não é fácil. As meninas sempre veem aqui comigo e gosto muito da minha vida.

Início como jogador...

- Trabalhava com meu pai e falava que, com 19 anos, jogaria bola. Ele dizia que tudo bem. Aí, quando fiz 19 anos, fui jogar no Pinheiros, no amador, e de lá fui para o Santa Cruz.

... e depois, como treinador

- Fui para Uberlândia direto, quando parei, em 1996. Fui campeão com a Chapecoense e queria viver com meu pai, meu maior torcedor. Aí, no dia 22 de fevereiro, ele morreu e, para mim, foi um choque grande. Daí, comprei padaria, açougue e pesque-pague e não me achei em nenhum lugar. Felizmente, o futebol reapareceu para mim.

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Autor: João M. Nunes de Camargo