Grupo quer mudar nome de rua para homenagear 'santa' de Ponta Grossa

Ponta Grossa

Um grupo de moradores quer mudar o nome de uma das principais ruas de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná. A Avenida Vicente Machado leva o nome do ex-presidente do Paraná, que comandou o estado no fim do século 19.

O grupo acha que a homenagem não condiz com a história da cidade, já que ele foi injusto com muitos moradores, na época da Revolução Federalista. A sugestão dos moradores é trocar o nome do ex-político na rua pelo de Corina Portugal, uma vítima de violência doméstica, que morreu há 126 anos e é tida como milagreira na cidade.

Atualmente a rua concentra lojas, prédios públicos e imóveis históricos. É nela que ocorrem os desfiles cívicos e outros eventos públicos, como manifestações e até desfile de escolas de samba.

Em um ato simbólico, o grupo que defende a mudança colocou placas com o nome de Corina Portugal na rua. O aniversário de morte dela é em 26 de abril. Segundo o engenheiro agrônomo Mauro Marcolino Carneiro, que participou do ato, a ideia é que, até esta data, a Câmara Municipal de Ponta Grossa aprove um projeto de lei para revogar a antiga lei que denomina a via de Vicente Machado e faça a homenagem a Corina Portugal. “Já falamos com dois vereadores e estamos vendo esta possibilidade”, comenta Carneiro.

Placa de papelão foi colocada sob a placa oficial da avenida (Foto: Gizele Silva/G1 PR)Placa de papelão foi colocada sob a placa oficial da avenida (Foto: Gizele Silva)

Corina nasceu numa família rica do Rio de Janeiro e mudou-se para o Paraná com o marido Alfredo Marques de Campos. Em Ponta Grossa, ele abriu uma farmácia com a ajuda do médico João Menezes Dória. Campos era adversário político de Vicente Machado, que na época era procurador.

O marido de Corina, que era tido como um homem agressivo, matou a esposa com 32 facadas depois de uma briga. Vicente Machado se tornou, então, o advogado de defesa de Campos. No julgamento, o defensor disse que Corina tinha traído o marido com o médico Dória e, portanto, Campos tinha lavado sua honra. Campos foi absolvido.

A historiadora Georgiane Garabely Heil Vázquez considera a substituição do nome das ruas como justa. “Ela morreu como uma heroína, e o marido foi absolvido porque alegou sua honra. O Vicente Machado foi quem encabeçou a absolvição, colocando Corina como culpada”, lembra Georgiane.

Vicente Machado
O crime motivou diversas pesquisas. O advogado Josué Correa Fernandes escreveu o livro "Corina Portugal: história de sangue e luz" e diz que a homenagem a Vicente Machado é controversa. “Ele foi o algoz de muitos ponta-grossenses quando assumiu a presidência do Paraná, em 1893, e perseguiu moradores da cidade durante a Revolução Federalista", afirma.

“Não tenho uma opinião formada sobre a mudança do nome da avenida, mas eu não me simpatizo com a história política de Vicente Machado”, opina Fernandes. Georgiane lembra que a denominação da rua está ligada ao poder econômico do grupo de Machado no fim do século 19. “O Vicente Machado representava uma elite econômica e vem daí a homenagem”, explica.

Fila em Dia de Finados
Corina está sepultada no Cemitério Municipal São José, em Ponta Grossa. O túmulo é repleto de placas de agradecimento à Corina, por supostas graças recebidas. “Ela é considerada uma santa pelas pessoas, que pedem graças em seu nome”, acrescenta Fernandes.

Placas em agradecimento à Corina estão sobre o túmulo (Foto: Gizele Silva/G1 PR)Placas em agradecimento à Corina estão sobre o túmulo (Foto: Gizele Silva)

A procura pelo jazigo é tanta que, segundo alguns coveiros, as pessoas fazem fila para acender velas para Corina em Dia de Finados.

O pedreiro do cemitério, Ezequiel Dênis de Lima, diz que são os fiéis da jovem falecida que cuidam do túmulo. “Eles que pintam, trazem flores e limpam. A gente nem precisa mexer”, afirma.

Segundo Lima, a legião de adoradores de Corina é formada, principalmente, por mulheres. “Dá pra contar nos dedos quantos homens vêm aqui”, diz.