<div>Delegado da PF diz que depoimento de José Dirceu é 'inevitável'</div>

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José Dirceu, saída de prisão para trabalho externo, em junho de 2014 (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)José Dirceu é ex-ministro da Casa Civil
(Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

O delegado da Polícia Federal (PF) Igor Romário de Paula afirmou nesta quinta-feira (11), em Curitiba, que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu deve ser chamado para depor sobre o recebimento de R$ 844 mil por parte da empreiteira Camargo Corrêa, investigada na Operação Lava Jato.

  “Eu entendo como inevitável”, disse o delegado em relação ao possível depoimento de Dirceu.

Um relatório elaborado pela Polícia Federal, a partir de documentos apreendidos na Camargo Corrêa, mostra que a empresa obteve mais de R$ 2 bilhões em contratos com a Petrobras entre 2008 e 2013. No mesmo período, a construtora doou dinheiro a partidos políticos e empresas de consultoria, entre elas, a JD Consultoria, que pertence ao ex-ministro.

Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa de José Dirceu reafirmou que o ex-ministro já se colocou à disposição das autoridades para prestar qualquer esclarecimento sobre os contratos de consultoria. "A JD foi contratada pela Camargo Corrêa  para auxiliar a construtora em negócios no exterior, em especial em Portugal e Venezuela", diz um trecho da nota enviada.

De acordo com o relatório, a JD Consultoria recebeu R$ 844 mil entre maio de 2010 e fevereiro de 2011. Os contratos já haviam sido revelados e estão sob investigação.

O relatório também diz que o Instituto Lula, vinculado ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu três pagamentos que somam R$ 3 milhões. Entretanto, ao ser questionado sobre a necessidade de um depoimento o ex-presidente, ele disse que "nesse momento é ainda muito prematuro".

“Isso é trazido [os repasses para o Instituto Lula] para os autos agora pela primeira vez, precisa aprofundar. O que vai ser feito neste momento, a partir do laudo, é ver se há realmente indícios de irregularidade ali. Havendo indícios, com certeza, é natural que se instaure inquérito para apurar”, afirmou o delegado.

Doações
Dentre os partidos políticos que receberam doações da Camargo Corrêa estão legendas que compõem a base do governo, como o PT, o PMDB e o PP, e também da oposição, como o PSDB. A PF não aponta se houve irregularidades nas doações, mas elas são investigadas pela Lava Jato.

A empresa de consultoria Costa Global, do ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato, Paulo Roberto Costa, também foi beneficiada, recebendo R$ 3 milhões apenas em 2013.

Quanto aos repasses ao Instituto Lula, o primeiro deles ocorreu em 2011 a título de contribuições e doações; o segundo foi em 2012, como bônus eleitorais; e o terceiro ocorreu em 2013, a título de contribuições. A investigação tenta descobrir o que significam essas referências.

Já a empresa LILS Palestras e Eventos, aberta por Lula, recebeu pagamentos de mais de R$ 1,5 milhão entre 2011 e 2013.

Ainda conforme o relatório, a Camargo Corrêa repassou R$ 67 milhões a empresas que pertencem a um dos delatores da Lava Jato, o empresário Júlio Camargo. Segundo a acusação do Ministério Público Federal (MPF), estas empresas eram de fachada e foram utilizadas, também, para o repasse de dinheiro a políticos.

O ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini, que colabora com as investigações em troca de redução da pena, afirmou em depoimento que as empresas de Júlio Camargo não prestaram nenhum serviço à construtora. A PF deve convocar ele, o ex-vice da empresa Eduardo Leite, além dos donos das consultorias que receberam pagamentos para prestar depoimentos.

Outro lado
O Instituto Lula confirmou que a LILS recebeu pagamentos da Camargo Corrêa para palestras do ex-presidente. Informou ainda que as doações ao instituto servem para manutenção de atividades e que sempre foram declaradas e os impostos pagos. O Instituto Lula também afirmou que não emite bônus eleitorais, o que é uma prerrogativa de partidos políticos, e que a denominação encontrada deve ser fruto de equívoco.

A Camargo Corrêa afirmou que as contribuições ao Instituto Lula são referentes a apoio institucional e ao patrocínio de palestras de Lula no exterior, e que está colaborando com as autoridades.

O ex-ministro José Dirceu reafirmou que já encaminhou cópia dos contratos e das notas fiscais pela prestação de consultoria à Camargo Corrêa e que está à disposição das autoridades.

O PP e o PSDB reafirmaram que as doações foram legais e declaradas à Justiça. O PT não respondeu ao pedido da reportagem, que também não conseguiu contato com o PMDB.